"Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância." (Sócrates)
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) o conhecimento gerou, em 2020, cerca de 65% da riqueza mundial. Deixamos
de viver, no século XXI na sociedade industrial. Vivemos na sociedade do
conhecimento. Cerca de 2.500 anos atrás Sócrates já havia compreendido que o maior bem de uma pessoa e de um país é o seu conhecimento...
Estas afirmações têm consequências práticas. Por exemplo, entender que vivemos na Soceidade do Conhecimento implica reconhecer que a competição
global hoje está fortemente baseada na capacidade das pessoas, empresas e países de produzir e gerar conhecimento e inovação em larga escala. Significa também reconhecer que o Brasil precisa dar uma guinada no seu modelo de desenvolvimento
para colocar a produção e difusão do conhecimento no centro de seu processo
produtivo e que, para isto, precisa colocar a Educação no centro de qualquer modelo
de desenvolvimento.
O futuro do Brasil está umbilicalmente ligado ao que fizermos com a Educação: o futuro do Brasil depende do futuro da Educação.
E não faremos isto se não atacarmos, ao mesmo tempo, a nossa brutal desigualdade econômica e social. Não existe desenvolvimento possível sem uma redução da desigualdade e isto não vai acontecer sem que a Educação esteja no centro de nossas preocupações e ações. De novo, não existirá um futuro sem educação de qualidade para todos.
Mas... qual educação?
Certamente não a que praticamos no século XX.
Como nos lembra Silvio Meira, ex-professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e presidente do conselho do PortoDigital, no Recife, “a educação terá componentes digital e social cada vez mais significativos. Será uma oportunidade para todos os agentes que trabalham com a educação esta transição do espaço físico para o figital (físico e digital) e esta será possivelmente a ruptura mais radical na educação desde a prensa de tipos móveis”.
De fato, o papel primordial da escola, no século XXI, deixou de ser apenas a preparação da(o) aluna(o) para o mercado de trabalho e passou a centrar-se na capacitação do indivíduo autônomo e consciente de suas responsabilidades.
Educação na Sociedade do Conhecimento
Desde Adam Smith[1] que diferentes correntes do pensamento econômico concordam que os fatores básicos de produção são terra, capital, trabalho, matéria-prima e energia. Esta classificação teve um profundo impacto no processo de desenvolvimento da sociedade e marcou o pensamento de gerações de economistas.
Mas esta visão não corresponde mais a realidade. Relatório da OCDE aponta que, em 2020, cerca de 65% da riqueza mundial foi gerada pelo conhecimento[2]. Pela primeira vez o conhecimento supera os fatores tradicionais de produção no processo de criação de riqueza.
Na verdade, a economia do conhecimento desloca o eixo da riqueza e do desenvolvimento de setores industriais tradicionais – intensivos em mão-de-obra, matéria-prima e capital - para setores cujos produtos, processos e serviços são intensivos em tecnologia e conhecimento. Mesmo em setores mais tradicionais, como a agricultura, a indústria de bens de consumo e de capital, a competição é cada vez mais baseada na capacidade de transformar informação em conhecimento e conhecimento em decisões e valor para os clientes e a sociedade. O valor dos produtos e serviços depende, assim, cada vez mais, do percentual de inovação, tecnologia e inteligência a eles incorporados[3]. O conhecimento parece ser, portanto, o novo motor da economia.
Crescer com mais conhecimento e menos desigualdade significa dar Educação de qualidade para todos os cidadãos. A prioridade absoluta de um projeto de futuro para o Brasil deve ser o combate à desigualdade e uma Educação Universal de qualidade. Num mundo onde o processo de criação de riqueza passa, principalmente, pelo conhecimento, seria um equívoco não nos preocuparmos com a redução da brutal desigualdade no acesso e uso do conhecimento. E seria um equívoco ainda maior acharmos que uma coisa pode ser resolvida sem a outra.
Precisamos de uma Educação que seja uma alavanca para termos cidadãos e cidadãs críticos e responsáveis,
capazes de construir uma sociedade menos desigual e mais justa.
Certamente este tema é multi e interdisciplinar. Seria um equívoco
achar que a Educação para o Futuro seja um tema para educadores apenas. A
Educação é um problema complexo, que envolve várias dimensões e que para ser
devidamente enfrentado precisa da colaboração de diversos especialistas, de
diferentes áreas como sociologia, psicologia, tecnologia, economia, dentre
outros. Problemas complexos não se resolvem e não devem ser abordados com
enfoques únicos, com discursos prontos, mas com diversidade e multiplicidade de
abordagens, capazes de darem conta dos diversos aspectos do problema.
Nesta série de artigos que publicaremos sobre o tema, vamos explorar esta diversidade de nefoques para construir um projeto de educação para o século XXI.
No Brasil de hoje temos um grande consenso sobre a necessidade de fazermos o país crescer.
Mas crescer, como?
A nossa reposta é clara: Com mais educação e menos
desigualdade.
Você pode participar desta discussão. Envie um email para marcos@crie.ufrj.br e nos siga nas mídias digitais e no nosso site: http://www.crie.ufrj.br/
[1] Adam Smith. A Riqueza das Nações, cuja primeira edição foi em 1776.
[2] OECD economic outlook. OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Paris,2020. https://doi.org/10.1787/bb167041-en
[3] Cavalcanti, Gomes e Pereira Neto, A Gestão de empresas na sociedade do conhecimento, Editora Campus, 2001.