Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de vocês?
Sei que nada será como antes, amanhã ou depois de amanhã
(Nada será como antes, Milton Nascimento e Beto Guedes)
Sei que nada será como antes, amanhã ou depois de amanhã
(Nada será como antes, Milton Nascimento e Beto Guedes)
O mundo já viveu guerras e outras crises, mas nenhuma como esta. A crise
de 2008 e o crash da bolsa americana em 1929 afetaram basicamente o setor
financeiro e poucos países. Os reflexos se fizeram sentir em outros países e
setores, mas de forma mitigada e em diferentes momentos do tempo. Outros vírus
se disseminaram pelo mundo, mas de forma menos intensa e rápida e com muito
menos impacto econômico. É a primeira vez que vivemos uma crise global,
com impactos na vida do dia a dia de mais de 6 bilhões de pessoas. E sem escalonamento no tempo. Todos vivenciando a crise no mesmo tempo!
Ainda é cedo para entendermos o que isto vai mudar de forma definitiva
em nossas vidas. O apagão elétrico no Brasil nos ensinou a gastar menos energia
(apagar a luz quando não estamos no local, diminuir o uso do micro ondas...). E
agora?
Acredito que podemos identificar pelo menos três tendências muito claras:
1. Intensificação do digital
Uma primeira consequência, bem óbvia, é uma aceleração da digitalização
de nossas vidas. Mesmo setores com baixo índice de digitalização, como a
educação, vão dar grandes passos nessa direção.
2. Volta ao básico
Outro aprendizado, paradoxalmente, será uma volta ao básico: preparar
sua própria comida, ter uma horta... As pessoas vão ter mais tempo para si
mesmos e sua família, com tudo de bom e ruim que isto traz. Vamos ter que
aprender a usar melhor nosso tempo, fora da roda viva infernal na qual
transformamos nossas vidas. Muitos de nós não sabem mais ficar quietos em casa,
pensar na vida, baixar o ritmo. Vamos ter que aprender...
3. Mudanças na economia
Mas o maior impacto vai ser na economia. A recessão que vem atrás do
vírus é de uma dimensão nunca vista na história da humanidade. Não afetará
alguns países, de forma diferenciada na intensidade e no tempo, como as outras.
Será ao mesmo tempo, em todos os países, e de forma devastadora.
Pensem nas conexões: os bares e restaurantes que estarão fechados
empregam 10% da força de trabalho nos Estados Unidos e são mais de 1 milhão no
Brasil! Sem os clientes pagando, os restaurantes não podem comprar de seus
fornecedores, pagar os alugueis. Os motoristas de Uber vão ter menos trabalho,
o Airbnb vai gerar menos renda para as pessoas, que vão ter menos dinheiro para
consumir... Pior, todos que dependem do seu próprio trabalho: pequenos
negociantes, dentistas, profissionais liberais, vão ter uma queda brutal e
repentina em suas rendas. E tudo isto em escala global!
O "mercado" não vai conseguir regular isto! Vai ser preciso
uma forte intervenção do Estado. Mais do que nunca a ideia de uma renda mínima
universal vai ficar clara. Assim como foi feito com os bancos, no passado, os governos
vão ter que ajudar os pequenos comerciantes e os trabalhadores por conta
própria a chegar até o final do mês. As medidas econômicas tradicionais não
serão suficientes, vamos ter que ser criativos. Os antigos modelos vão ter que
ser repensados.
Vão ser momentos intensos, mas acredito que vamos mostrar todo o
potencial de superação de crise que temos. Já fizemos isto antes e vamos fazer
agora. Toda crise é também uma oportunidade. As redes vão nos ajudar a
encontrar e construir novos caminhos. As aulas não vão se limitar ao espaço da
escola, os negócios vão ser reinventados usando as novas tecnologias, e mais do
que nunca vamos entender por que devemos investir em ciência e tecnologia para
preparar não apenas nosso futuro como nosso presente.
Chegou a hora de fazer diferente! Como diria Einstein, "as coisas
não mudam se sempre fazemos o mesmo. A crise traz progresso e a criatividade
nasce da angústia. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as
grandes estratégias". Sem crise não aprendemos, e é na crise que aflora o
que temos de melhor e pior, ajudando a separar o joio do trigo.
Nada será como antes. Vamos fazer com que este depois seja muito melhor?