terça-feira, 17 de março de 2020

Nada será como antes


Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de vocês?
Sei que nada será como antes, amanhã ou depois de amanhã
(Nada será como antes, Milton Nascimento e Beto Guedes)


O mundo já viveu guerras e outras crises, mas nenhuma como esta. A crise de 2008 e o crash da bolsa americana em 1929 afetaram basicamente o setor financeiro e poucos países. Os reflexos se fizeram sentir em outros países e setores, mas de forma mitigada e em diferentes momentos do tempo. Outros vírus se disseminaram pelo mundo, mas de forma menos intensa e rápida e com muito menos impacto econômico. É a primeira vez que vivemos uma crise global, com impactos na vida do dia a dia de mais de 6 bilhões de pessoas. E sem escalonamento no tempo. Todos vivenciando a crise no mesmo tempo! 

Ainda é cedo para entendermos o que isto vai mudar de forma definitiva em nossas vidas. O apagão elétrico no Brasil nos ensinou a gastar menos energia (apagar a luz quando não estamos no local, diminuir o uso do micro ondas...). E agora?

Acredito que podemos identificar pelo menos três tendências muito claras:

1. Intensificação do digital
Uma primeira consequência, bem óbvia, é uma aceleração da digitalização de nossas vidas. Mesmo setores com baixo índice de digitalização, como a educação, vão dar grandes passos nessa direção.

2. Volta ao básico
Outro aprendizado, paradoxalmente, será uma volta ao básico: preparar sua própria comida, ter uma horta... As pessoas vão ter mais tempo para si mesmos e sua família, com tudo de bom e ruim que isto traz. Vamos ter que aprender a usar melhor nosso tempo, fora da roda viva infernal na qual transformamos nossas vidas. Muitos de nós não sabem mais ficar quietos em casa, pensar na vida, baixar o ritmo. Vamos ter que aprender...


3. Mudanças na economia
Mas o maior impacto vai ser na economia. A recessão que vem atrás do vírus é de uma dimensão nunca vista na história da humanidade. Não afetará alguns países, de forma diferenciada na intensidade e no tempo, como as outras. Será ao mesmo tempo, em todos os países, e de forma devastadora.

Pensem nas conexões: os bares e restaurantes que estarão fechados empregam 10% da força de trabalho nos Estados Unidos e são mais de 1 milhão no Brasil! Sem os clientes pagando, os restaurantes não podem comprar de seus fornecedores, pagar os alugueis. Os motoristas de Uber vão ter menos trabalho, o Airbnb vai gerar menos renda para as pessoas, que vão ter menos dinheiro para consumir... Pior, todos que dependem do seu próprio trabalho: pequenos negociantes, dentistas, profissionais liberais, vão ter uma queda brutal e repentina em suas rendas. E tudo isto em escala global!

O "mercado" não vai conseguir regular isto! Vai ser preciso uma forte intervenção do Estado. Mais do que nunca a ideia de uma renda mínima universal vai ficar clara. Assim como foi feito com os bancos, no passado, os governos vão ter que ajudar os pequenos comerciantes e os trabalhadores por conta própria a chegar até o final do mês. As medidas econômicas tradicionais não serão suficientes, vamos ter que ser criativos. Os antigos modelos vão ter que ser repensados. 

Vão ser momentos intensos, mas acredito que vamos mostrar todo o potencial de superação de crise que temos. Já fizemos isto antes e vamos fazer agora. Toda crise é também uma oportunidade. As redes vão nos ajudar a encontrar e construir novos caminhos. As aulas não vão se limitar ao espaço da escola, os negócios vão ser reinventados usando as novas tecnologias, e mais do que nunca vamos entender por que devemos investir em ciência e tecnologia para preparar não apenas nosso futuro como nosso presente. 

Chegou a hora de fazer diferente! Como diria Einstein, "as coisas não mudam se sempre fazemos o mesmo. A crise traz progresso e a criatividade nasce da angústia. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias". Sem crise não aprendemos, e é na crise que aflora o que temos de melhor e pior, ajudando a separar o joio do trigo. 

Nada será como antes. Vamos fazer com que este depois seja muito melhor?


terça-feira, 3 de março de 2020

Como combater o desperdício de comida? Redes!

Pelos cálculos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) anualmente 1,3 milhões de toneladas de produtos alimentícios são desperdiçados em todo o mundo. No Brasil, de acordo com o IBGE, são descartadas 41 mil toneladas de comidas todos os anos (veja aqui).

Todo mundo sabe que tem um monte de gente (restaurantes, feirantes, produtores) que não sabe o que fazer com a comida que eles consideram inadequada para vender e um monte muito maior de gente que poderia aproveitar esta comida. A grande dificuldade é fazer o casamento entre estas duas pontas, juntar os que querem a comida com os que não sabem o que fazer com ela. 

Uma empresa nos Estados Unidos resolveu fazer disso um negócio: Misfits Market (misfits = desajustados, rejeitados). Ela recolhe a comida que os restaurantes, produtores e feirantes acham que não vão conseguir mais vender e vende para quem quer pagar até 40% mais barato. E ainda garante a qualidade: são produtos orgânicos e com pequenos "defeitos" na aparência. 

Resolvemos experimentar e estamos encantados (vejam a foto)!

Toda semana chega esta caixa cheia, com diferentes frutas e legumes, super saborosos. O modelo de negócios da empresa a faz ganhar nas duas pontas: os produtores pagam uma pequena quantia para eles recolherem os produtos que eles não querem mais e os consumidores pagam para receber estes produtos em casa.

Assim como o UBER, o Airbnb, e tantas outras plataformas de negócio, a Misfits Market usa a ciência das redes para agregar valor para todos: produtores, vendedores e consumidores. Uma nova forma de intermediação onde você não é mais proprietário ou dono dos carros, dos imóveis ou da comida...

As empresas e gestores tradicionais, públicos ou privados, que ainda não entenderam a nova lógica da economia digital em rede precisam mudar seu mindset, sua forma de pensar e de enxergar a realidade.

Se você quer saber mais sobre o assunto, venha conversar com o CRIE (Centro de Referência em Inteligência Empresarial). VIsite nosso site e o site dos dois cursos de Pós Graduação Lato Sensu: o MBKM (Master on Business and Knowledge Management), Pós Graduação em Gestão do Conhecimento e o WIDA (Web Intelligence and Digital Analytics), Pós Graduação em Big Data Estratégico. As novas turmas começam dia 14 de março e todos podem assistir a aula inaugural. Para isto devem contactar a Paula Salgado (paula@crie.ufrj.br).

Nos vemos por lá!






segunda-feira, 2 de março de 2020

Tempo de travessia

"Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha." (Fernando Pessoa)

"Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver" 
(Travessia - Fernando Brant e Milton Nascimento)


Em 1955, quando Einstein morreu, seu cérebro foi dissecado por uma equipe comandada pelo patologista da Universidade de Princeton, Thomas Harvey, para tentar descobrir o que havia de especial no cérebro de um homem que foi considerado um dos gênios do século XX. E o resultado foi decepcionante: o cérebro de Einstein era igual ao nosso...






O cérebro humano tem sido muito estudado e o que as pesquisas estão demonstrando é que ele, mais do que um centro difusor de ideias, é uma esponja que absorve e processa milhões de informações do ambiente onde ele vive. 

Durante séculos pensamos nos "gênios" como alguém fora do seu tempo e espaço. Alguém com qualidades únicas, com um contato direto com Deus... Hoje sabemos que os gênios são pessoas fora da curva, mas que construíram sua genialidade imersos em um ambiente que favorecia e estimulava sua criatividade. E que, sobretudo, possuíam uma rede social que permitiu que elaborassem suas ideias revolucionárias.

Em artigo recente, intitulado "Einstein's genius wasn't in his brain; it was in his friends" (A genialidade de Einstein não estava no seu cérebro, mas nos seus amigos"), o antropólogo social Sal Restivo mostra que os gênios não aparecem aleatoriamente, mas em determinados ambientes chamados clusters, ou grupamentos sociais. 


O fato de que atores criativos se reúnem em grupo é conhecido de longa data. O que as pesquisas mais recentes em ciência das redes estão mostrando é que grupos criativos aparecem de maneira previsível durante períodos de rápido declínio ou crescimento das civilizações. Também sabemos que novas ideias e tecnologias surgem simultaneamente em lugares diferentes e compartilham semelhanças ligadas ao espírito do seu tempo.

Um exemplo disto é a Bossa Nova, que surgiu no Brasil, na década de 60, durante um período de crise. Sem a reunião daquele grupo de artistas que se influenciaram mutuamente, não teriam aparecido gênios como Tom Jobim, Chico Buarque e João Gilberto.  

Esta descoberta sobre o papel dos clusters e dos ambientes criativos no surgimento de ideias inovadoras o no desenvolvimento econômico e social é importante porque nos traz a responsabilidade de pensar em como devemos construir nosso futuro. Se continuássemos presos a ideia de que os gênios surgem aleatoriamente, e graças exclusivamente aos seus dotes pessoais, ficaríamos esperando que eles nascessem e não teríamos nada a fazer a não ser rezar. A ciência está mostrando, ao contrário, que podemos criar ambientes que favoreçam o desenvolvimento.

E foi exatamente pensando em formar pessoas capazes de construir este novo mundo que o CRIE (Centro de Referência em Inteligência Empresarial) organizou dois cursos de Pós Graduação Lato Sensu: o MBKM (Master on Business and Knowledge Management), Pós Graduação em Gestão do Conhecimento e o WIDA (Web Intelligence and Digital Analytics), Pós Graduação em Big Data Estratégico. As novas turmas começam em março e todos podem assistir a aula inaugural. Para isto devem contactar a Paula Salgado (paula@crie.ufrj.br).

O futuro não está escrito nas estrelas. Ele depende de nós, mas precisamos estar abertos para repensar nossas velhas crenças, que nos impedem de ver as transformações que estão ocorrendo no mundo. Porque, como diria o poeta, “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia”... 

Vamos fazê-la juntos?