"Perdoa-me, folha seca,
(Canção de Outono - Cecília Meirelles)
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?" Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
(Canção de Outono - Cecília Meirelles)
Empresas
jornalísticas, de marketing, "fábricas" de software e outras que demandam criatividade de
seus funcionários funcionam de forma irritantemente igual: espaços, abertos, sem
paredes, onde todos seus funcionários podem se ver, conversar e interagir.
Desde o início deste século este foi considerado o "ambiente ideal" para elas
trabalharem. Nunca me vi trabalhando de forma eficiente num ambiente destes,
mas como ninguém questionava esta unanimidade e eu sempre tive minha sala
individual na Universidade, deixei este assunto para lá.
Até que recentemente caiu nas minhas mãos um estudo chamado "Coding War Games" (clique no link para acessar o estudo), de Tom Demarco e Timothy Lister.
Neste estudo eles avaliaram a performance de 600 programadores de mais de 90 companhias de informática. E constataram uma diferença significativa entre os
profissionais: o desempenho do melhor superou o do pior em dez vezes. E, mais
interessante ainda, as razões que normalmente são atribuídas àqueles de melhor
desempenho, como experiência, salário, tempo dedicado à tarefa, não explicavam
o fenômeno.
Demarco e Lister perceberam que os melhores programadores tendiam a
trabalhar em algumas empresas. Aprofundando sua investigação, descobriram que o
segredo era a privacidade: 62% dos que se saíram bem disseram que seu lugar de
trabalho oferecia um ambiente reservado onde podiam se concentrar, contra
apenas 19% dos que tiveram pior performance.
Temos então um aparente paradoxo: as pessoas trabalham melhor sozinhas, mas a construção do conhecimento é um processo eminentemente coletivo. E aí?
Temos então um aparente paradoxo: as pessoas trabalham melhor sozinhas, mas a construção do conhecimento é um processo eminentemente coletivo. E aí?
O cientista cognitivo David E. Meyer, diretor do Laboratório de cérebro, cognição e
ação da Universidade de Michigan, nos dá uma pista. Segundo ele, "Quando
se trata de qualquer operação não corriqueira, executar diversas tarefas ao
mesmo tempo nos desconcentra, aumentando a chance de erro". Ou seja, a
solução de problemas complexos exige concentração total. Na preparação deste
trabalho, no entanto, quanto mais interagirmos com outras pessoas (de
preferência com culturas e conhecimentos diferentes), mais estaremos criando as
bases para um bom trabalho.
Não se trata de
colocar uma coisa contra a outra. Precisamos das duas coisas: interação, troca,
compartilhamento, mas também introversão, reflexão, introspecção. E temos que
construir espaços e criar momentos onde estas duas situações possam acontecer.
Numa sociedade que
valoriza cada vez mais a extroversão e a interação entre as pessoas, vale a
pena parar para repensar nossos espaços de trabalho. Parafraseando Vinicius de
Moraes, os extrovertidos que me perdoem, mas a introversão (também) é
fundamental!