quinta-feira, 18 de março de 2021

Ciência e fé

Ciência sem fé é capenga. Fé sem ciência é cegueira e fanatismo (Albert Einstein)

Quando era menino adorava ler e observar a natureza. Passava horas lendo, mas adorava ficar vendo as formigas caminharem levando coisas muito maiores que elas pra lá e pra cá, caçava vaga-lumes para tentar entender como eles podiam brilhar tanto e adorava dormir ouvindos os grilos cantarem na casa da minha tia em Petrópolis.

Não sabia que um dia iria querer virar um cientista, mas sempre exercitei minha curiosidade e busquei conhecer o porque das coisas. E volta e meia me deparava com coisas inexplicáveis. Só muito mais tarde fui descobrir que mesmo cientistas renomados tinham este momento onde precisavam exercer a sua fé. É pela fé que lidamos com aquilo que não podemos ver ou entender. A fé é a esperança que nos permite lidar com a ideia de futuro e do desconhecido. A ciência procura trabalhar com aquilo que é provado, testado e prescrito. A fé é do campo dos sentidos. 

Durante muitos anos estes mundos não se misturavam, mas hoje estou convencido que um não pode viver sem o outro. A ciência sem fé é capenga, fica limitada às coisas que podemos racionalmente provar, abdicando da sensibilidade. Além disso, o desenvolvimento de métodos, práticas e teorias é uma expressão da criatividade humana e, para quem acredita, uma expressão do Divino. De qualquer forma, uma expressão do humano. Newton não teria chegado à teoria da gravidade se não tivesse como aliada sua sensibilidade e sua fé nas suas teorias, mesmo que em muitos momentos elas parecessem absurdas. Em 1666, aos 24 anos, ele estava estudando na Universidade de Cambridge quando retornou à sua casa em Woolsthorpe Manor (localizada no condado de Linconlshire, na Inglaterra) para passar um tempo enquanto a instituição estava fechada por causa da peste bubônica. Não se sabe exatamente embaixo de qual macieira Newton estava quando viu a maçã cair no chão – e não sobre sua cabeça, como reza a lenda –, mas como só existia uma em Woolsthorpe Manor, assumiu-se que era essa. Infelizmente, uma forte tempestade arrancou a macieira do chão em 1816, mas algumas raízes permaneceram fixas, e enxertos foram feitos e várias macieiras plantadas a partir deles, dentre elas esta da foto, que fica em Cambridge, que eu visitei...


Da mesma forma, a fé sem ciência é apenas fanatismo. Não bastam as bençãos de Deus para nos livrar da COVID-19 ou de um câncer. Quem pensa assim, no fundo vê Deus como um amuleto que espanta doenças. Como diria Ed René Kivitz: "A fé não nos imuniza, ela nos responsabiliza". Precisamos fazer a nossa parte e a ciência não pode ser desprezada nem ignorada.

Para fazer ciência precisamos ter fé e para a fé ser saudável ela precisa contar com a ciência. Como nos lembra Edgar Morin "Somos seres complexos, não podemos ficar reduzidos a um único aspecto da personalidade”. A consciência da complexidade nos faz compreender que não poderemos escapar da incerteza e que não poderemos ter um saber total: a totalidade é a não verdade, porque não há conhecimento, e não há fé, que não esteja ameaçada pelo erro e pela ilusão.

De minha parte já fiz minha escolha: sigo com as duas...

E você?