sexta-feira, 3 de julho de 2020

O futuro chegou. Só a Globo não viu..

“Hoje é um novo dia, De um novo tempo que começou

Todos os nossos sonhos serão verdade, O futuro já começou...” (Um novo tempo – Marcos Valle – música das festas de fim de ano da TV Globo)


Quem não se lembra desta música?

Pois bem, o futuro chegou. A TV Globo acaba de cancelar a transmissão dos jogos do Campeonato Carioca. Por quê? Porque o Flamengo se recusou a assinar o contrato de exclusividade e resolveu passar a transmitir seus jogos por uma TV própria, no YouTube. E na quarta feira transmitiu Flamengo e Boavista pela FlaTV e bateu recordes: no total, estima-se que 14 milhões de pessoas assistiram ao jogo, com um pico de 2,2 milhões de pessoas. Além disso, houve inúmeras doações pelo SuperChat no Youtube. No final da transmissão, a FlaTV já tinha mais de 4 milhões de assinantes no canal do YouTube.


Mas esqueçam, por enquanto, estes números. Vamos pensar no modelo de negócio. Para fazer a transmissão dos jogos a Globo mobilizava um gigantesco aparato tecnológico, com TV, satélite, equipamentos sofisticados e dezenas de profissionais. E só transmitia para quem pagasse a assinatura do Premiere. Ou quando os anunciantes pagavam pra ela transmitir na TV aberta. Para ter estes direitos, ela pagava uma grana preta aos clubes, federações e CBF.

E agora?

Como disse o Marconi Pereira “Uma TV transmite para todo mundo, torcedor de tudo que é time. Mas esses torcedores compram alguma coisa? A TV sabe o que eles querem? O que é melhor para um time? eu transmitir um jogo para 200 milhões de pessoas ou para 4 milhões de torcedores fanáticos que estão espalhados por todo o mundo, com potencial de crescimento e consumo?”

O dono do conteúdo, os times de futebol, dependiam da Globo para vender seu produto. Agora, não mais... Como a tecnologia de Internet é mais barata e acessível, o dono do conteúdo (Flamengo) não precisa colocar nenhuma mega infraestrutura mega para distribuir o conteúdo que ele gera. Eles simplesmente transformaram-se em uma "empresa de TV".  Quando a Globo esperava que o Flamengo fosse seu "concorrente"? Não só virou uma empresa de TV como vão atrás do ouro do marketing, uma grana infinitamente maior da que eles recebiam da Globo.  

Mas tem mais. Como diria o Marconi: “Quando os produtores de conteúdo começam a distribuir o produto no mundo digital, movido a informação e que é abundante, três coisas acontecem:

1) o custo marginal vai a zero. Com o controle do material (o vídeo do jogo), pode-se colocar QR codes diferentes e distribuir em diferentes canais, gerando mais dinheiro sem nenhum custo adicional;

2) O domínio explode. Sabemos que as TVs têm dados estatísticos de jogos passados, de quantas jogadas fulano ou sicrano fez, quantos pênalties pro lado esquerdo fizeram. Todas essas informações chegam e nem vemos ou sabemos. Essas informações certamente podem ser coletadas hoje por algoritmos que processam imagens. Empresas podem surgir que automatizem isso de uma maneira inimaginável, basta ter acesso aos dados brutos. Eu posso abrir uma empresa de AI de processamento de vídeos e ser um fornecedor do Flamengo. Ou até do Botafogo, Vasco, Fluminense, São Paulo. O céu é o limite.

3) a delimitação da área de problema muda. No ambiente de escassez, eu tenho que estar frente a uma TV. Eu, torcedor que estou fora do país e tenho que pagar uma série de fornecedores (VPN, Globo.com) para poder assistir aos jogos do campeonato brasileiro. No modelo de abundância, eu posso estar em qualquer local do planeta e assistir ao jogo do meu time em qualquer dispositivo, sem precisar pagar muito por isso. E compartilho com minha família. E os anunciantes saem do modelo escasso de TV dentro das fronteiras do país para o modelo abundante de Internet, sem fronteiras do país”.

É uma verdadeira revolução e a Globo claramente demonstra não estar preparada para ela.

Mas não foi por falta de aviso...

Há seis anos eu estive lá na Globo para falar de tudo isto para eles. Vejam a mensagem que recebi de uma das pessoas que estava nesta reunião:

“Grande Mestre Marcos Cavalcanti, ao ver sua publicação por aqui, me lembrei de uma passagem sua pela Globosat que talvez você nem se recorde. Salvo engano falávamos do futuro, lá pelos idos de 2013/2014. E de repente você nos disse, esqueçam SBT, Band, ou qualquer outra empresa de mídia. Seus concorrentes são os produtores de conteúdo e as empresas de telecom. E ainda continuou: Porque vocês precisam deles para vender seu conteúdo? Vendam direto. Naquele momento, tudo nos causava desconforto. "Esse cara é maluco", diziam alguns. A Globosat voava nessa época batendo recorde atrás de recorde de receita, share e audiência”...

Pois é... Depois disso vieram a Netflix, Amazon e cia, e agora, os produtores de conteúdo: artistas, músicos e... TIMES DE FUTEBOL! Ou vocês acham que Fluminense, Vasco, Botafogo, Coríntians, São Paulo, Santos vão implorar para a Globo voltar?

Pois é exatamente isto o que a GLOBO acha. Diante da ameaça que representa a FlaTV o que ela fez? Cancelou a transmissão do campeonato carioca, certamente esperando que a opinião pública se volte contra o Flamengo... 

 

Um ledo engano de quem ainda não entendeu que, como dizia a canção, o futuro já começou! 

E a festa é nossa e de quem vier...