sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Educar é a arte de provocar a fome

 "Não quero faca nem queijo. Quero é fome" (Adélia Prado)

"Não quero a faca nem o queijo, quero a fome" (Adélia Prado)

Uma coisa eu aprendi ao longo dos meus 28 anos como professor: ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas é que aprendem. Se quiserem... Como nos lembra Rubem Alves, "O comer começa na fome. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo”.

Assim é com a educação. Se alguém tem fome de aprender a somar frações ou entender mais sobre a revolução francesa ele vai aprender, mesmo que o professor não ajude. Educar, portanto, é a arte de produzir fome...

Quando era menino, ficava vendo minha avó fazer quindins. Ela ia explicando o que estava fazendo e isto aguçava minha curiosidade. Quando o quindim ficava pronto eu estava louco de vontade de comê-lo.

É assim que vejo meu trabalho de professor e é por isto que este novo blog tem a foto de uma cozinha: educar é provocar a curiosidade, a fome de aprender. Não é dar a faca, o queijo, o anzol ou o peixe.

 Vivemos um tempo riquíssimo, de transição de uma sociedade industrial e de um pensamento cartesiano para uma sociedade onde o conhecimento é o principal fator de produção. Neste novo tempo precisamos de novas formas de pensar e agir: pensar de forma complexa e agir usando ferramentas que lidem com a complexidade, como a ciência das redes. E sabendo que o valor das coisas não vem mais, principalmente, da terra, do capital, da mão de obra ou da energia, mas de fatores intangíveis como conhecimento, confiança e afeto. Afeto, do latim “affetare”, quer dizer “ir atrás”. Precisamos aprender a ir atrás do que desejamos, ter a fome que nos faz ir em busca do fruto sonhado.

É por isto que neste blog vou falar de ciência das redes, complexidade e ativos intangíveis. Estou convencido que precisamos de uma nova forma de pensar e de novas ferramentas para viver no século XXI. Afinal, como disse Einstein, “insanidade é continuar pensando do mesmo jeito e fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

Precisamos pensar e fazer diferente.

Vamos nessa?

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O paradoxo da tolerância

 

"If we are not prepared to defend a tolerant society against the onslaught of the intolerant, then the tolerant will be destroyed, and tolerance with them"

("Se não estivermos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância com eles").  

Karl Raimund Popper, The Open Society and Its Enemies


BASTA! 

O grito ecoou no dormitório onde duas dezenas de adolescentes faziam uma guerra de travesseiros... Tínhamos 15 anos e fazíamos uma viagem do colégio ao Caraça-MG. Era a terceira vez que o Padre Almeida vinha nos pedir para nos acalmar. Nas outras vezes ele tentou argumentar: "vocês estão num seminário de Padres, eles estão dormindo, amanhã precisamos acordar cedo para seguir viagem...". Tudo com uma voz doce e calma. Não adiantou. Era só ele virar as costas e sair do dormitório para a batalha recomeçar. Nesta terceira aparição do Pe. Almeida o tom de voz era outro e ele deixou claro que se continuássemos voltaríamos para o Rio. Resolvemos ir dormir...

Este é o paradoxo do tolerância. Como nos lembra Popper:

A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles. 

Fomos intolerantes e nenhum argumento racional nos fez mudar de ideia. O Pe. Almeida precisou ser firme contra os intolerantes...


Esta semana o Twitter, depois de repetidos avisos e alertas, baniu o presidente dos Estados Unidos. E alguns logo falaram que era censura.

Será?




Vamos seguir com Popper:

"Nessa formulação, não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes. Se podemos combatê-las com argumentos racionais e mantê-las em xeque frente à opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente. Mas devemos-nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força. Porque pode ser que eles não estejam preparados para nos encontrar nos níveis dos argumentos racionais, que não estejam dispostos a debater e que proibam seus seguidores de ouvir argumentos racionais. Porque os intolerantes são enganadores, e preferem ensinar as pessoas a responder aos argumentos com punhos ou pistolas. Devemos-nos, então, reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante. Devemos exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância fique fora da lei e que qualquer incitação à intolerância e perseguição seja considerada criminosa, da mesma forma que no caso de incitação ao homicídio, sequestro ou tráfico de escravos".

Quando os intolerantes resolvem responder com "punhos ou pistolas", chutando santas, invadindo e destruindo o congresso ou terreiros de candomblé, matando vereadoras, impedindo Cristovão Buarque de falar num Congresso da SBPC ou cancelando pessoas porque elas pensam diferente não podemos ser tolerantes. 

Não podemos ser tolerantes com os intolerantes, sejam eles de direita ou de esquerda. A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. 

Hitler e Stalin estão aí para comprovar isto. 

Temos que ser capazes, como o Pe. Almeida e a Mafalda, de dizer:

BASTA!