terça-feira, 8 de junho de 2021

Um projeto para colocar o Brasil no século XXI (Finalmente!)

Pra quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve (Sêneca) 

Toda unanimidade é burra (Nélson Rodrigues)


Foram anos entrevistando cientistas, especialistas e pessoas comuns em vários países do mundo. Milhares de quilômetros percorridos pelo interior profundo do Brasil e nas periferias das grandes cidades para conhecer de perto a realidade diversa e desigual do nosso país. E o resultado é um documentário profundo, que toca em todos os problemas essenciais e, mais importante ainda, traz propostas e soluções que nos permitem dar a volta por cima e entrar no século XXI como um país moderno, menos desigual e mais justo.

Não é mágica nem solução milagrosa. Para acontecer vamos precisar mobilizar a inteligência de todos e as lideranças de boa fé, com partido ou sem partido. As propostas apresentadas são inteligentes, factíveis e necessárias. São um caminho para um país que está desgovernado, sem saber para onde ir. E pior, que está polarizado por discursos de ódio e divisão (a direita e à esquerda), quando o que precisamos é de união, empatia, generosidade e mais amor pelo próximo. 

2021 O Ano que não começou,- propostas para colocar o Brasil no século XXI 

(Clique aqui para ver o documentário).

Claro que as propostas trazidas neste documentário não serão unânimes, afinal, como nos lembra Nélson Rodrigues "toda unanimidade é burra"... Além disso, muitos políticos e acadêmicos vão mostrar todo o seu preconceito contra o catalisador desta proposta, Luciano Huck. Não faltarão vozes falando para ele voltar a ser "animador de auditório", para abandonar a política... Fazem isto porque sabem que ele pode ser uma ameaça real aos políticos tradicionais, que só almejam o poder para se beneficiarem dele, como sempre fizeram, à direita e à esquerda. Já os "professores" que atacarão Huck o farão por motivos ideológicos (ele não reza pela cartilha ideológica de ninguém) e despeito, afinal foram incapazes de elaborar um projeto de país tão completo e democrático quanto este apresentado no documentário. 

O projeto aborda de forma sintética os principais tópicos para colocar um país no século XXI: valorizacão da educação (é o pilar número UM da proposta), combate a desigualdade social, racial e de gênero (com propostas concretas), desenvolvimento econômico sustentável e uso intensivo de tecnologia para ganhar escala a baixo custo na educação, saúde e nos programas sociais e eficiência na máquina administrativa do Estado. É um projeto ambicioso, mas factível. Sobretudo porque não parte da necessidade de "salvadores da pátria" para acontecer. Pelo contrário. A proposta é um projeto supra partidário, que procura envolver toda a sociedade, para além dos partidos, das igrejas e da posição social dos indivíduos e que pretende engajar lideranças jovens, sobretudo das periferias.

Vejam a íntegra do documentário, compartilhem com amigos e familiares. Vamos fazer que 2021 seja o início de uma virada histórica, que organize um movimento capaz de unir o Brasil, torná-lo um país menos desigual, mais justo e humano. 

Só depende de nós. De cada um de nós.

Bora? 

Eu tô dentro. E você?

quinta-feira, 18 de março de 2021

Ciência e fé

Ciência sem fé é capenga. Fé sem ciência é cegueira e fanatismo (Albert Einstein)

Quando era menino adorava ler e observar a natureza. Passava horas lendo, mas adorava ficar vendo as formigas caminharem levando coisas muito maiores que elas pra lá e pra cá, caçava vaga-lumes para tentar entender como eles podiam brilhar tanto e adorava dormir ouvindos os grilos cantarem na casa da minha tia em Petrópolis.

Não sabia que um dia iria querer virar um cientista, mas sempre exercitei minha curiosidade e busquei conhecer o porque das coisas. E volta e meia me deparava com coisas inexplicáveis. Só muito mais tarde fui descobrir que mesmo cientistas renomados tinham este momento onde precisavam exercer a sua fé. É pela fé que lidamos com aquilo que não podemos ver ou entender. A fé é a esperança que nos permite lidar com a ideia de futuro e do desconhecido. A ciência procura trabalhar com aquilo que é provado, testado e prescrito. A fé é do campo dos sentidos. 

Durante muitos anos estes mundos não se misturavam, mas hoje estou convencido que um não pode viver sem o outro. A ciência sem fé é capenga, fica limitada às coisas que podemos racionalmente provar, abdicando da sensibilidade. Além disso, o desenvolvimento de métodos, práticas e teorias é uma expressão da criatividade humana e, para quem acredita, uma expressão do Divino. De qualquer forma, uma expressão do humano. Newton não teria chegado à teoria da gravidade se não tivesse como aliada sua sensibilidade e sua fé nas suas teorias, mesmo que em muitos momentos elas parecessem absurdas. Em 1666, aos 24 anos, ele estava estudando na Universidade de Cambridge quando retornou à sua casa em Woolsthorpe Manor (localizada no condado de Linconlshire, na Inglaterra) para passar um tempo enquanto a instituição estava fechada por causa da peste bubônica. Não se sabe exatamente embaixo de qual macieira Newton estava quando viu a maçã cair no chão – e não sobre sua cabeça, como reza a lenda –, mas como só existia uma em Woolsthorpe Manor, assumiu-se que era essa. Infelizmente, uma forte tempestade arrancou a macieira do chão em 1816, mas algumas raízes permaneceram fixas, e enxertos foram feitos e várias macieiras plantadas a partir deles, dentre elas esta da foto, que fica em Cambridge, que eu visitei...


Da mesma forma, a fé sem ciência é apenas fanatismo. Não bastam as bençãos de Deus para nos livrar da COVID-19 ou de um câncer. Quem pensa assim, no fundo vê Deus como um amuleto que espanta doenças. Como diria Ed René Kivitz: "A fé não nos imuniza, ela nos responsabiliza". Precisamos fazer a nossa parte e a ciência não pode ser desprezada nem ignorada.

Para fazer ciência precisamos ter fé e para a fé ser saudável ela precisa contar com a ciência. Como nos lembra Edgar Morin "Somos seres complexos, não podemos ficar reduzidos a um único aspecto da personalidade”. A consciência da complexidade nos faz compreender que não poderemos escapar da incerteza e que não poderemos ter um saber total: a totalidade é a não verdade, porque não há conhecimento, e não há fé, que não esteja ameaçada pelo erro e pela ilusão.

De minha parte já fiz minha escolha: sigo com as duas...

E você?



sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Educar é a arte de provocar a fome

 "Não quero faca nem queijo. Quero é fome" (Adélia Prado)

"Não quero a faca nem o queijo, quero a fome" (Adélia Prado)

Uma coisa eu aprendi ao longo dos meus 28 anos como professor: ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas é que aprendem. Se quiserem... Como nos lembra Rubem Alves, "O comer começa na fome. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo”.

Assim é com a educação. Se alguém tem fome de aprender a somar frações ou entender mais sobre a revolução francesa ele vai aprender, mesmo que o professor não ajude. Educar, portanto, é a arte de produzir fome...

Quando era menino, ficava vendo minha avó fazer quindins. Ela ia explicando o que estava fazendo e isto aguçava minha curiosidade. Quando o quindim ficava pronto eu estava louco de vontade de comê-lo.

É assim que vejo meu trabalho de professor e é por isto que este novo blog tem a foto de uma cozinha: educar é provocar a curiosidade, a fome de aprender. Não é dar a faca, o queijo, o anzol ou o peixe.

 Vivemos um tempo riquíssimo, de transição de uma sociedade industrial e de um pensamento cartesiano para uma sociedade onde o conhecimento é o principal fator de produção. Neste novo tempo precisamos de novas formas de pensar e agir: pensar de forma complexa e agir usando ferramentas que lidem com a complexidade, como a ciência das redes. E sabendo que o valor das coisas não vem mais, principalmente, da terra, do capital, da mão de obra ou da energia, mas de fatores intangíveis como conhecimento, confiança e afeto. Afeto, do latim “affetare”, quer dizer “ir atrás”. Precisamos aprender a ir atrás do que desejamos, ter a fome que nos faz ir em busca do fruto sonhado.

É por isto que neste blog vou falar de ciência das redes, complexidade e ativos intangíveis. Estou convencido que precisamos de uma nova forma de pensar e de novas ferramentas para viver no século XXI. Afinal, como disse Einstein, “insanidade é continuar pensando do mesmo jeito e fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

Precisamos pensar e fazer diferente.

Vamos nessa?

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O paradoxo da tolerância

 

"If we are not prepared to defend a tolerant society against the onslaught of the intolerant, then the tolerant will be destroyed, and tolerance with them"

("Se não estivermos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância com eles").  

Karl Raimund Popper, The Open Society and Its Enemies


BASTA! 

O grito ecoou no dormitório onde duas dezenas de adolescentes faziam uma guerra de travesseiros... Tínhamos 15 anos e fazíamos uma viagem do colégio ao Caraça-MG. Era a terceira vez que o Padre Almeida vinha nos pedir para nos acalmar. Nas outras vezes ele tentou argumentar: "vocês estão num seminário de Padres, eles estão dormindo, amanhã precisamos acordar cedo para seguir viagem...". Tudo com uma voz doce e calma. Não adiantou. Era só ele virar as costas e sair do dormitório para a batalha recomeçar. Nesta terceira aparição do Pe. Almeida o tom de voz era outro e ele deixou claro que se continuássemos voltaríamos para o Rio. Resolvemos ir dormir...

Este é o paradoxo do tolerância. Como nos lembra Popper:

A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles. 

Fomos intolerantes e nenhum argumento racional nos fez mudar de ideia. O Pe. Almeida precisou ser firme contra os intolerantes...


Esta semana o Twitter, depois de repetidos avisos e alertas, baniu o presidente dos Estados Unidos. E alguns logo falaram que era censura.

Será?




Vamos seguir com Popper:

"Nessa formulação, não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes. Se podemos combatê-las com argumentos racionais e mantê-las em xeque frente à opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente. Mas devemos-nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força. Porque pode ser que eles não estejam preparados para nos encontrar nos níveis dos argumentos racionais, que não estejam dispostos a debater e que proibam seus seguidores de ouvir argumentos racionais. Porque os intolerantes são enganadores, e preferem ensinar as pessoas a responder aos argumentos com punhos ou pistolas. Devemos-nos, então, reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante. Devemos exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância fique fora da lei e que qualquer incitação à intolerância e perseguição seja considerada criminosa, da mesma forma que no caso de incitação ao homicídio, sequestro ou tráfico de escravos".

Quando os intolerantes resolvem responder com "punhos ou pistolas", chutando santas, invadindo e destruindo o congresso ou terreiros de candomblé, matando vereadoras, impedindo Cristovão Buarque de falar num Congresso da SBPC ou cancelando pessoas porque elas pensam diferente não podemos ser tolerantes. 

Não podemos ser tolerantes com os intolerantes, sejam eles de direita ou de esquerda. A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. 

Hitler e Stalin estão aí para comprovar isto. 

Temos que ser capazes, como o Pe. Almeida e a Mafalda, de dizer:

BASTA!