sábado, 28 de maio de 2016

Quem ficou bem nas fitas?

"Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes.
Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta.
Nos perguntamos: "Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?" Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?...Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você.
E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar que, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo". (Nélson Mandela)


Os poderosos estão tendo um medo que nunca tiveram antes. Com razão. Eles estão sendo investigados e punidos como nunca foram. Empreiteiros, doleiros, latifundiários, banqueiros e políticos se achavam imunes à lei. Hoje estão na cadeia. No silêncio e na escuridão dos palácios de Brasília arquitetavam seus planos e saqueavam o país sem que a sociedade pudesse reagir ou mesmo tomasse conhecimento das falcatruas. Pior ainda, alguns pensavam que o lula de 2016 era o lula de 2003 e que o poder dele e dos políticos era maior que o do povo, e que bastaria um estalar de dedos do líder messiânico para o povo correr em sua defesa...

Esqueceram-se de que os tempos agora são outros. As redes sociais, a participação popular, o fortalecimento da democracia e das instituições republicanas e uma nova geração de juízes, procuradores da república e policiais federais colocou Brasília de cabeça para baixo. Nunca se leu ou se falou tanto de política quanto agora. Temos mais observadores e comentaristas do que qualquer jornal ou revista jamais imaginou ou poderia ter. Só nos últimos cinco anos mais de 20 milhões de pessoas passaram a usar ativamente seus celulares e smartphones, deixando de serem meros leitores e espectadores para se tornarem produtores de um conteúdo cada vez mais amplo e diversificado. O Brasil está, cada vez mais, conhecendo a sua cara.

Claro que no meio desta abertura de comportas para a participação popular há de tudo, inclusive o indesejável e o abjeto. Como nos lembra a escritora Ana Maria Machado, "a cada um de nós a tarefa de filtrar a porcaria que não quer ingerir. E o cuidado de discernir o que visivelmente parte de uma origem única, pretendendo desviar o foco do que importa ou impor uma só forma de pensar e ver".

É exatamente a diversidade de opiniões que soma experiências, desnorteia os poderosos e fortalece a democracia. Quando era menino, jogava bola em diversos campinhos pelas ruas e morros de Laranjeiras. Quando tinha sede, bebia água na primeira bica ou jorro de água disponível. Devo ter ingeridos milhões de bactérias! Mas vivi 50 anos tendo poucas doenças e atribuo isto a estas bactérias e águas impuras... Beber de diversas fontes nos faz mais resistentes, mais plurais e fortalece a democracia.

Assim como o leito conduz os rios até o mar, a internet e as redes sociais foram o meio que viabilizou um salto de qualidade e quantidade na participação popular. Se antes os partidos políticos e sindicatos tinham o monopólio da mobilização popular, eles agora têm papel absolutamente secundário. E se esvaziam a olhos vistos. Os jovens tendem a não mais lhes prestar qualquer importância ou representatividade, e isto é um enorme avanço para a democracia. As pessoas deixam de ser tuteladas e passam a ser protagonistas de sua própria história. Precisam pensar com sua própria cabeça.

Esta nova realidade de uma presença popular não teleguiada pelos partidos e sindicatos se conjugou com uma nova geração de juízes, procuradores e policiais federais que fazem de forma séria e republicana seu trabalho para viabilizar uma operação que está fazendo uma revolução política no país: a operação Lava Jato. Os políticos, que antes tinham as rédeas do poder nas mãos, se sentem impotentes diante de gravações, documentos e processos absolutamente comprometedores, que levaram um deles a admitir que "não vai sobrar ninguém"...  

O Golpe era contra a Lava Jato

As últimas gravações demonstram claramente que os políticos de TODOS os partidos tramavam um golpe nos bastidores para, senão acabar com a Lava Jato, pelo menos "enquadrá-la dentro de limites aceitáveis"... Para isto, como nos lembra o mestre Zuenir Ventura, " a providência mais importante seria mudar a lei de delação premiada, responsável pelo explosão de uma bomba atrás da outra". E quem é o autor deste projeto de lei que Zuenir considera um golpe contra a Lava Jato? O Deputado Wadi Damous, do PT-RJ, que lula queria como Ministro da Justiça da presidente Dilma...

Mas o tiro saiu pela culatra... Ainda segundo Zuenir, "em lugar de extinguir ou enfraquecer a Lava Jato, fortaleceu-a, garantindo a sobrevivência e até mesmo o reforço da operação comandada por Sérgio Moro, pois os que foram apanhados arquitetando na sombra um plano contra ela tiveram que vir a público prometer defendê-la..."

Se os políticos e poderosos saem enfraquecidos deste processo, quem se fortaleceu? Quem ficou bem nas fitas? Para Zuenir, "o ministro Teori Zavascki e o procurador da República, Rodrigo Janot, foram os que mais ganharam prestígio e respeito (Moro é hors concours"). O primeiro foi considerado de "difícil acesso" pelos políticos e o segundo xingado de "mau caráter""... 



Além destes três, eu acho que o grande vencedor, quem mais ficou bem na fita foi o povo brasileiro. Em toda a sua diversidade. Sempre tivemos o complexo de vira-latas, nos consideramos incapazes. Mas, como disse Mandela, "Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta". As mobilizações de junho de 2013 e as que fizemos em relação ao impeachment (a favor ou contra) mostraram que os partidos e sindicatos não tem mais o monopólio da mobilização popular. Qualquer um de nós pode ser luz, pode ser protagonista da sua história, indo às ruas, batendo panela, escrevendo e postando nas redes... Estamos aprendendo que em rede podemos ser alguém com voz e presença e que podemos transformar a sociedade. 

Este é um caminho sem volta. "À medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo". Para desespero dos poderosos do século XX e do milênio passado, "É um rio de asfalto e gente que entorna pelas ladeiras e entope o meio fio. Na esquina mais de um milhão"... E é com toda esta gente gente gente que vamos mudar o Brasil.
 

 

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