sábado, 21 de janeiro de 2017

Quem são os bobos?



"Sob os auspícios da generosidade, gostaria de chamar ao palco um grande amigo..." (Paulinho Malaguti Pauleira, chamando Lenine para dar uma canja no seu show, em março de 2011, no Teatro Baden Powell, em Copacabana )


A generosidade não é uma marca do nosso tempo. Quase todos os modelos de negócios estão baseados no "princípio" de que só a competição move a economia, os seres humanos e o mundo. Sem ela estagnaríamos. Uma empresa se acomodaria e acabaria ultrapassada pela concorrente; os seres humanos não se aprimorariam e o mundo não se desenvolveria. A generosidade pode até ser considerada politicamente correta, mas a visão que predomina, sobretudo nos meios empresariais, é de que ela é coisa de ingênuos. E de bobos.


Será?
Já nos esquecemos, mas quando as ações do Google foram lançadas na bolsa, em 19 de agosto de 2004, os comentários de todos os analistas econômicos dos principais jornais dos Estados Unidos eram de que a empresa precisava arranjar um outro modelo de negócio ou ia falir em menos de três anos. Se insistisse em prestar todos os seus serviços de graça ela não ia muito longe. Treze anos depois a empresa vale mais de U$ 500 bilhões e não se ouve mais este tipo de comentário... 

Da mesma forma, quando a Wikipedia foi lançada, ninguém ousaria pensar que esta enciclopédia, onde todos os colaboradores trabalham de graça, desbancaria a secular Enciclopédia Britânica e se tornaria uma referência mundial.


Quando a empresa americana Celera Genomics Corporation foi fundada, em 1998, com o objetivo declarado de sequenciar e patentear o genoma humano, ninguém teve dúvidas de que ela ia conseguir. O lançamento, um pouco antes, de um consórcio mundial reunindo milhares de pesquisadores de todo o mundo (inclusive do Brasil), com o mesmo objetivo, mereceu pouquíssimo destaque na mídia. Ninguém acreditava que um bando de pesquisadores, trabalhando de forma colaborativa e sem nenhuma recompensa a não ser seus salários, ia conseguir superar a eficiência de uma grande corporação privada, que prometia a seus funcionários participação nos enormes lucros advindos do patenteamento do genoma humano. 

Foi muito divertido ver a cara de incredulidade dos jornalistas econômicos quando, em 14 de abril de 2003, o consórcio internacional dos bobos e ingênuos anunciou a conclusão do sequenciamento do genoma humano e o tornou patrimônio da humanidade, para ser usado gratuitamente por todos. A rede mundial de pesquisadores tinha vencido a poderosa empresa americana e seus competitivos profissionais...

Podia ser só uma bela história onde os "mais fracos" vencem os ricos e poderosos, mas é muito mais do que isto. A sociedade do conhecimento em rede não vai acabar com a competição. Ela continuará existindo entre as empresas e entre os seres humanos, promovendo o desenvolvimento tanto da sociedade quanto de cada um de nós. Mas esta nova era abre a oportunidade para novas formas de se criar valor. Não é só a competição que cria valor, mas também a confiança, o compartilhamento e a generosidade. E isto funciona tanto no tablado de um teatro, quanto no palco da vida e do mundo dos negócios...

Pense nisso, pois quem ainda não entendeu esta nova realidade é que vai fazer o papel de bobo...





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