sexta-feira, 8 de agosto de 2025

A inteligência artificial existe?

  "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade"  

(Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista)


A resposta a esta pergunta é muitio simples: a "inteligência artificial' é uma grande jogada de marketing. Ela não existe. O que chamamos de inteligência artificial é um grande guarda chuva para falar de várias tecnologias: sistemas de apoio a decisão, tradução de linguagem natural, reconhecimento de padrões, deep learning, recomendação personalisada, agentes inteligentes...



A criação deste nome ajudou os pesquisadores a receber dinheiro das instituições de fomento durante décadas (em particular na última). Falar em IA (Inteligência Artificial) virou Hype: um termo que Emily Bender define como o "engrandecimento de alguma pessoa, artefato, tecnologia ou técnica que você, o consumidor, absolutamente precisa comprar ou investir o mais rápido possível"... 

Agrupando todas essas tecnologias sob o rótulo de IA cria-se a ilusão de uma tecnologia "inteligente“. Se uma tecnologia melhora sua foto e outra traduz um texto, chamá-las todas de IA dá a ilusão que tudo é feito pela mesma “inteligência”, um "ser superior" quase um Deus, capaz de fazer mais do que um simples mortal como nós pode fazer. 

Portanto, falar em Inteligência Artificial é colocar num mesmo saco diferentes competências e tecnologias. Não faz sentido, a não ser como um jogada de marketing, para vender mais caro o que temos para oferecer. Uma ideia que não é nova, e o ministro de propaganda nazista cansou de fazer...

Mas nem tudo é vento...

Como veremos no próximo texto, a Inteligência Artificial é uma realidade incontornáve no século XXI. E o inverno da IA acabou no início da década de 2010. 

Em dezembro de 2012, numa conferência (Neural Information Processing Systems), Geoff Hinton e seus alunos Alex Krizhevsky e Ilya Sutskever publicaram um paper mostrando seus avanços em Deep Learning e criaram uma empresa chamada DNNresearch.

 


A DNNresearch foi uma startup focada em redes neurais, nas áreas de reconhecimento de fala e imagem. Os resultados práticos foram impressionantes e o Google adquiriu a DNNresearch em 2013 por $ 44 milhões. Na verdade, o que fez este trabalho ter tanta repercussão foi que, pela primeira vez, eles tiveram acesso a uma bse de dados gigantesca e a uma rede de computadores de alto processamento. 

O funcionamento do algoritmo eu vou explicar num próximo post, mas a partir deste investimento do Google e dos resultados obtidos nos dez anos que se seguiram a publicação deste paper, aconteceu um grande boom da Inteligência Artificial e o inverno dos investimentos acabou. 

Na liderança deste processo estava este garoto de óculos na foto: Ilya Sutskever. Ele foi um dos fundadores da Open AI... Mas esta história eu conto no próximo post...

A seguir



PS: Aconselho fortemente a todos lerem o livro de Emily Bender: The AI CON

Inteligência Artificial Generativa ou Degenerativa?

Meu pós doutorado na Columbia University tem sido extremamente produtivo. E para contar tudo o que aprendi começo hoje uma série de artigos falando sobre Inteligência Artificial. Não é um assunto novo. A primeira vez que alguém falou nisto foi em 1956, numa conferência em Dartmouth (EUA), que reuniu duas dezenas de cientistas liderados por John MacCarthy e Marvin Minsky. Durante o encontro, discutiram como criar uma nova área de pesquisa e MacCarthy achou que este nome ia ajudá-los a conseguir dinheiro... Vale lembrar que os primeiros computadores, com válvulas eletrônicas tinham acabado de surgir.

Nos trinta anos seguintes, até a década de 90 a área progrediu lentamente, com mais promessas que resultados. Pessoalmente, trabalho com isto deste a década de 90, quando fiz um doutorado na França e minha tese foi o desenvolvimento de um Sistema de Apoio a Decisão dos controladores aéreos do Aeroporto de Orly, usando ferramentas de IA e linguagens como PROLOG e LISP.

Dos anos 90 até 2010 a IA viveu um período de inverno, sem dinheiro e sem nenhum resultado significativo.


Conteúdo do artigo
Investimento em Inteligência Artificial (1950 - 2024)

O inverno acabou nos anos 2010, quando uma determinada abordagem de reconhecimento de padrões, chamada de aprendizagem profunda (“deep learning”) começou a ter resultados práticos…

Mas isto é assunto para o nosso segundo artigo...

Até lá!

PS: Você deve estar se perguntando por quê o título de IA Degenerativa. Fique ligado nesta séria de artigos e você entenderá o motivo. ;-)