segunda-feira, 14 de março de 2016

E agora?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?








Acredito que teremos tempos tensos pela frente, principalmente se interpretarmos equivocadamente o recado das ruas. O dia 13 de março de 2016 foi um dia histórico. Foi a maior manifestação deste século no Brasil. Num mesmo dia, em mais de 250 cidades e durante horas, milhões de pessoas foram às ruas se manifestar em defesa da Lava Jato e contra lula, Dilma e o PT. Nunca antes tivemos manifestações em tantas cidades fora dos maiores centros urbanos.

Alguns "acusaram" a manifestação de ter "pouco pobre". Imagens foram pinçadas para se tentar caracterizar a manifestação de ontem como "coxinha" ou "de direita". Duas perguntas: 1) Qual foi a composição social da Passeata dos 100 mil (em 1968), das Diretas Já (1984) e do impeachment do Collor (em 1992)? Exatamente a mesma das manifestações de ontem: a classe média revoltada. 2) Em que grande manifestação os pobres brasileiros foram às ruas? Infelizmente nenhuma. No dia em que eles se manifestarem o Brasil muda, de fato... 


Os milhões que foram às ruas ontem não têm uma determinada posição política à esquerda ou à direita. Ao contrário das grandes manifestações do século passado, as atuais manifestações não têm UM palanque e "líderes". As pessoas não foram atrás de UM trio elétrico ou ficaram aplaudindo um líder debaixo de um palanque ou de uma faixa. Cada um levou o seu cartaz e o seu trio elétrico...
O que, mais uma vez, ficou claro ontem é que os partidos e organizações sindicais que temos não representam mais a complexidade e diversidade da sociedade brasileira deste início de século XXI. O muro de Berlim não existe mais. Os muros agora são outros. A realidade mudou. Neste novo mundo as redes sociais ganham, a cada dia, espaço sobre os meios tradicionais de comunicação. Como nos lembra Silvio Meira, "há quem queira que redes sociais online não tenham poder nenhum; só que os fatos estão dizendo o contrário. Noutro extremo, há quem queira que as redes tenham todo poder: e os fatos, de novo, provam o contrário. Sem as ruas, sem gente nelas, sem a presença física de tanta gente mobilizada, saindo de casa –nem que fosse só para sair…- não seria um tuitaço que mudaria o Brasil..."

O debate e a discussão nas redes (mesmo que ainda seja limitado e pouco profundo) quando combinado com a ação conjunta nas ruas, como aconteceu ontem, tem um poder de transformação enorme. Estamos começando a descobrir isto. Quanto mais rápido aprendermos a fazer esta articulação e combinação, mais rápido encontraremos os caminhos para nos tirar deste impasse a que chegamos. Porque vamos ter que construir outros caminhos. Nas ruas e nas redes. 

Quem perde com isso e que, portanto, vai resistir? Os que hoje se beneficiam do status quo: os partidos políticos tradicionais, sindicatos e todas estas estruturas hierárquicas construídas no milênio passado para controlar e domesticar "as massas".



E agora?

A questão é: o que fazer agora? O Brasil está diante de um impasse de difícil solução. Me parece que podemos extrair algumas lições sobre o dia 13 de março:

1) os petistas e seus fieis (não são mais militantes, são fieis) vão continuar cegos e surdos ao clamor popular. Pare eles quem foi à rua ontem não é povo... Toda a energia que lhes resta daqui para frente será para se manterem no poder a qualquer custo. Literalmente. Nos próximos meses o país estará entregue à própria sorte. Inflação, desemprego, recessão, déficit público... nada disso mais importa para eles. O negócio é defender lula e seu governo.

2) o sistema político brasileiro está falido. Se nem o PSDB tem credibilidade para falar para a multidão imaginem um governo liderado pelo PMDB/Temer! Conseguirá governar? Nem com o PT indo pra oposição e levando junto sua enorme rejeição. E ainda tem os processos no STF contra seus principais dirigentes. Um governo do PMDB vai ser extremamente instável e com vida curta.

Novas eleições em 2016!

Me parece que o melhor caminho para a saída desta crise seria novas eleições. É a maneira mais democrática de sair do impasse, com uma negociação com respaldo popular. Só um novo governo com legitimidade poderá fazer as mudanças e tomar as medidas que o país precisa.

O problema é: quem vai querer convocar eleições agora em 2016? Os partidos que são maioria no Congresso (PT, PSDB e PMDB) têm certeza que vão perder as eleições. Para eles o que interessa é uma saída por cima, via negociação e conchavos no Congresso. Sem a participação popular. Sem povo na rua... Não iriam convocar eleições para se suicidarem.

Os próximos meses serão tensos. Podemos ficar esperando sentado a solução cair do céu. Ou as pessoas sinceramente comprometidas com o futuro do Brasil podem se unir, por cima dos partidos políticos, para construir uma alternativa. 
Uma utopia? Talvez. Mas sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade...

Eu topo. Quem mais?

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