É você que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem
Belchior
E que não vê
Que o novo sempre vem
Belchior
Nesta sexta feira os taxistas pararam o centro da cidade do Rio de Janeiro. Durante horas, milhões de pessoas não puderam levar quem precisava nos hospitais, escolas ou chegaram atrasados em seus trabalhos. Tratava-se de um protesto contra o UBER. Para eles, esta nova forma de prestação de serviços é uma ameaça à forma como eles sempre trabalharam.
Também nesta semana, centenas de intelectuais assinaram manifestos e se mobilizaram "contra o golpe", em defesa do governo.
Fiquei pensando no que leva as pessoas a defenderem o indefensável e me lembrei da célebre polêmica entre Camus e Sartre. Tanto um quanto o outro militaram na resistência francesa ao fascismo e se consideravam intelectuais de esquerda, mas divergiram frontalmente quando o mundo tomou conhecimento dos crimes cometidos por Stalin.
Embora Sartre reconhecesse e condenasse os massacres nos campos de concentração stalinistas, dizia que a única
esperança dos pobres e o único caminho para mudar a ordem social era apoiar Stalin e o marxismo. Seu argumento tinha uma lógica: tratava-se de uma escolha entre o comunismo e o capitalismo. Não existia outra alternativa, ou melhor, qualquer outra alternativa se resumia, no fundo, a fazer esta escolha fundamental. Para Sartre, todo intelectual que ignorasse esta contradição que para ele era essencial era, na melhor das hipóteses um "inocente útil" que fazia o jogo do imperialismo. Dentro da sua visão de mundo, Sartre achava que o totalitarismo soviético era "um mal necessário" para fazer frente ao perverso capitalismo que condenava a maioria da humanidade à pobreza, a ignorância e à fome. Nestes contexto não havia neutralidade possível.
Camus enxergava o mundo de outra forma. Para ele, os fins não justificavam os meios. O terror de Stalin não era melhor que a barbárie de Hitler ou do sistema capitalista. Não existe uma ditadura boa e outra má. O terror, seja ele de direita ou de esquerda só nos leva a produzir monstros e monstruosidades como foram Hitler e Stálin.
Mas o que têm a ver os taxistas, os intelectuais brasileiros que apoiam lula e o PT esta polêmica entre Camus e Sartre?
Em todas estas situações estamos vendo um embate entre as velhas ideias, o mundo do século passado, e as novas ideias, o mundo do século XXI.
Os taxistas querem defender o monopólio da prestação de um serviço que já encontrou novas formas de ser prestado. Sartre e nossos intelectuais estão presos a uma visão dual e maniqueísta de mundo. Para eles o mundo se resume a uma divisão entre esquerda e direita, entre quem é a favor ou contra o PT. A complexidade e a diversidade da vida atrapalham sua lógica. Eles precisam, permanentemente, criar inimigos reais (como o capitalismo) ou imaginários (como o golpe), para justificar o injustificável, para defender o indefensável.
Como nos lembra a economista e escritora Eliana Cardoso, "Durante décadas, os intelectuais de esquerda negaram os crimes
assustadores de Stálin na Rússia e de Mao na China. Hoje pensam que
podem esconder a corrupção por trás de palavras de ordem repetidas em manifestações organizadas por sindicatos e pela militância petista. Não podem.
A mudança depende dos 70% que se
declaram em oposição ao governo, a favor do impeachment da presidente e
da continuidade das investigações. Presos os bandidos, talvez haja a
possibilidade de renovação da política brasileira. Torço para que nossa
convicção cívica nos mantenha acima da propaganda disseminada tanto por
gente bem-intencionada quanto pelos bandidos que se pretendem acima da
lei".
Modismos são passageiros. São coisas que o tempo leva. As transformações que estamos falando são de outro tipo. São transformações profundas, que vieram para ficar. Vivemos um tempo de travessia. Nestas horas é só uma questão de tempo. O novo sempre vem.
Pois é, ficamos assistindo este embate e não nos focamos no que é prioridade. Todos ficam paralisados, sem ação. O prefeito ameaça com o cancelamento da concessão os taxistas que atrapalharem a cidade, mas não busca por uma solução. Está preso a velhos acordos, que lhe garantiam alguma benesse. O que me desespera é a energia humana sendo desperdiçada sem necessidade. Travessia como você é o Milton falaram.
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