sábado, 27 de fevereiro de 2016

Gigante dormindo em berço esplêndido com esta conversa mole pra boi dormir


"Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".  
(Albert Einstein)


Conheci Paulo Montenegro quando tinha 15 anos de idade. Dois de seus filhos eram meus colegas no colégio São Vicente de Paulo e em um time de pelada que fez história nos campos do Aterro do Flamengo.... Foi um breve contato, mas o suficiente para eu ter uma profunda admiração que ultrapassa em muito nossa identidade de torcermos pelo Fluminense. O Dr Paulo era uma pessoa inteligente, doce e generosa e por onde passou deixou admiradores e inspirou pessoas. Seu trabalho e de seus filhos transformou o IBOPE numa referência tão forte que virou um verbete no dicionário. Dar IBOPE é hoje uma expressão que todos conhecem...

Para perpetuar este legado sua família criou o Instituto Paulo Montenegro, uma organização sem fins lucrativos cujo "foco inicial de atuação foi a Educação, entendida como essencial para a construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida". Uma das pesquisas realizadas pelo Instituto é a que analisa o "Analfabetismo no Mundo do Trabalho”. A pesquisa foi feita em 2009, 2011 e em 2015. 

Nesta última, cujos resultados acabaram de ser divulgados (veja a reportagem aqui), constata-se o mesmo diagnóstico das pesquisas anteriores: 1 em cada quatro brasileiros é analfabeto funcional. Apenas 8% dos pesquisados mostraram domínio e chegaram ao nível máximo do teste, considerados “proficientes” em português e matemática.

Mas quais são e o que significam cada um destes níveis? Segundo a metodologia do Instituto Paulo Montenegro os níveis de alfabetismo funcional são:

  • Analfabeto - Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.);
  • Rudimentar - Corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica;
  • Básico - As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações; e
  • Pleno - Classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos. ​​​​​​​​​​​​​​​​​

Segundo a pesquisa, 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais; 42% estão no nível rudimentar, 23% no nível básico e apenas 8% dos brasileiros encontram-se no nível pleno ou proficiente.

18%
Para a Ana Lucia Lima, diretora executiva do Instituto, o mais surpreendente é que “18% das pessoas com cargos mais altos na administração pública têm alfabetização em nível pleno. É pouco, pensando que são pessoas em cargo de referência e tomadores de decisão e que estão planejando o país de amanhã.”

Para sair da crise precisamos fazer diferente
Muita gente se mostra surpresa com a crise que vivemos. Olhando estes dados não devíamos nos surpreender. Estamos colhendo o que plantamos ao longo dos anos.

Claro que avançamos. Tivemos um governo que garantiu a volta à democracia; um outro que acabou com a inflação e introduziu uma moeda forte, e um terceiro que colocou milhões de pessoas no mercado consumidor. Mas a sensação é de que avançamos muito pouco...

Por quê?


Porque não se constrói democracia, moeda forte e distribuição de renda, de forma efetiva e sustentável, com geladeiras e automóveis, mas sim com educação.

Sempre priorizamos o imediato, o conjuntural, o que rende mais votos. E esquecemos de cuidar do que, de fato, pode nos colocar no século XXI com justiça social: a educação para todos e de qualidade. 

Sempre trocamos o estratégico pelo populismo. O que dá trabalho, mas traz resultados, pelo que é mais "fácil". Estamos sempre à espera do "salvador da pátria", do "caçador de marajás", das "almas vivas mais honestas que existem e que enfrentam as elites"... E aí, com as dificuldades que continuamos a ter em educação, quando estes "heróis" chegam no poder são cooptados e continuam a jogar o mesmo jogo.

Precisamos buscar um outro caminho. Sem gurus. Sem delegação de responsabilidades. Sem paternalismos. O Brasil precisa deixar de ser o país do futuro e dos sonhos que não se realizam para se transformar no país do presente e dos sonhos realizados. Da realidade. E isto só vai acontecer quando nos convencermos que a educação deveria ser a prioridade número um do país. Não nos discursos, mas na prática. 

Desenvolvimento econômico, social e humano não se faz com paternalismo, mas com educação, ciência e tecnologia. Nosso foco têm sido o de incorporar mais consumidores ao mercado, quando deveria ser o de incluir mais cidadãos à sociedade.

Enquanto continuarmos por este caminho onde estamos vamos colher o que estamos colhendo: crise, desemprego e falta de competitividade. Não existe mágica. Precisamos de um outro caminho que coloque a educação no centro não apenas de nossas pre-ocupações, mas como foco principal de nossas ações. Enquanto não fizermos isto, este papo de "Pátria Educadora" continuará sendo conversa pra boi dormir e para manter o gigante em berço esplêndido...


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