"Insanidade
é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".
(Albert Einstein)
Conheci Paulo Montenegro quando tinha 15 anos de idade. Dois de seus filhos
eram meus colegas no colégio São Vicente de Paulo e em um time de pelada que
fez história nos campos do Aterro do Flamengo.... Foi um breve contato, mas o
suficiente para eu ter uma profunda admiração que ultrapassa em muito
nossa identidade de torcermos pelo Fluminense. O Dr Paulo era uma pessoa
inteligente, doce e generosa e por onde passou deixou admiradores e inspirou
pessoas. Seu trabalho e de seus filhos transformou o IBOPE numa referência tão
forte que virou um verbete no dicionário. Dar IBOPE é hoje uma expressão que
todos conhecem...
Para
perpetuar este legado sua família criou o Instituto Paulo Montenegro, uma
organização sem fins lucrativos cujo "foco inicial de atuação foi a Educação,
entendida como essencial para a construção de uma sociedade mais justa e
desenvolvida". Uma das pesquisas realizadas pelo Instituto é a que analisa
o "Analfabetismo no Mundo do Trabalho”. A pesquisa foi feita em 2009, 2011
e em 2015.
Nesta
última, cujos resultados acabaram de ser divulgados (veja a reportagem aqui), constata-se o
mesmo diagnóstico das pesquisas anteriores: 1 em cada quatro brasileiros é
analfabeto funcional. Apenas 8% dos pesquisados mostraram domínio e chegaram ao
nível máximo do teste, considerados “proficientes” em português e
matemática.
Mas
quais são e o que significam cada um destes níveis? Segundo a metodologia do Instituto Paulo Montenegro
os níveis de alfabetismo funcional são:
- Analfabeto - Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.);
- Rudimentar - Corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica;
- Básico - As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações; e
- Pleno - Classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos.
Segundo
a pesquisa, 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais; 42% estão no nível
rudimentar, 23% no nível básico e apenas 8% dos brasileiros encontram-se no nível
pleno ou proficiente.
18%
Para
a Ana Lucia Lima, diretora executiva do Instituto, o mais surpreendente é que “só 18% das
pessoas com cargos mais altos na administração pública têm alfabetização em
nível pleno. É pouco, pensando que são pessoas em cargo de referência e
tomadores de decisão e que estão planejando o país de amanhã.”
Para
sair da crise precisamos fazer diferente
Muita
gente se mostra surpresa com a crise que vivemos. Olhando estes dados não
devíamos nos surpreender. Estamos colhendo o que plantamos ao longo dos anos.
Claro
que avançamos. Tivemos um governo que garantiu a volta à democracia; um outro
que acabou com a inflação e introduziu uma moeda forte, e um terceiro que
colocou milhões de pessoas no mercado consumidor. Mas a sensação é de que
avançamos muito pouco...
Por quê?
Porque
não se constrói democracia, moeda forte e distribuição de renda, de forma
efetiva e sustentável, com geladeiras e automóveis, mas sim com educação.
Sempre
priorizamos o imediato, o conjuntural, o que rende mais votos. E esquecemos de
cuidar do que, de fato, pode nos colocar no século XXI com justiça social: a
educação para todos e de qualidade.
Sempre trocamos o estratégico pelo
populismo. O que dá trabalho, mas traz resultados, pelo que é mais
"fácil". Estamos sempre à espera do "salvador da pátria", do
"caçador de marajás", das "almas vivas mais honestas que existem
e que enfrentam as elites"... E aí, com as dificuldades que continuamos a
ter em educação, quando estes "heróis" chegam no poder são cooptados
e continuam a jogar o mesmo jogo.
Precisamos
buscar um outro caminho. Sem gurus. Sem delegação de responsabilidades. Sem
paternalismos. O Brasil precisa deixar de ser o país do futuro e dos sonhos que
não se realizam para se transformar no país do presente e dos sonhos realizados. Da realidade. E isto
só vai acontecer quando nos convencermos que a educação deveria ser a
prioridade número um do país. Não nos discursos, mas na prática.
Desenvolvimento
econômico, social e humano não se faz com paternalismo, mas com educação,
ciência e tecnologia. Nosso foco têm sido o de incorporar mais consumidores ao
mercado, quando deveria ser o de incluir mais cidadãos à sociedade.
Enquanto
continuarmos por este caminho onde estamos vamos colher o que estamos colhendo:
crise, desemprego e falta de competitividade. Não existe mágica. Precisamos de
um outro caminho que coloque a educação no centro não apenas de nossas pre-ocupações,
mas como foco principal de nossas ações. Enquanto não fizermos isto, este papo
de "Pátria Educadora" continuará sendo conversa pra boi dormir e para manter o gigante em berço esplêndido...
parabéns pelo excelente post. neutro, didatico
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